A proposta de passe livre na cidade de São Paulo não tem nada de nova: foi apresentada há mais de 20 anos pelo então Secretário de Transportes da gestão Erundina, Lúcio Gregori.
E tampouco há desinteresse público ou apatia da sociedade civil sobre tema, vide as manifestações de 2013, que eclodiram com essa pauta inicial - e dados recentes que mostram que 66% dos paulistanos apoiam a medida.
Mas se os governantes da maior cidade do país fingem que não ouvem, parece que o mesmo não acontece em outras cidades do Brasil e do mundo.
É o caso de São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, que recentemente tomou a decisão de implementar o passe livre em seu sistema de transporte público. Desde a semana passada ( 1º de dezembro de 2023), os cidadãos de São Caetano não precisam mais se preocupar com o custo do transporte público.
Mas por que isso é importante? E por que outras cidades ao redor do mundo e quase uma centena de cidades brasileiras estão seguindo o mesmo caminho?
A resposta é simples: o transporte público gratuito tem o potencial de transformar nossas cidades e melhorar a vida de seus habitantes de maneiras que outras políticas públicas raramente conseguem.
Vamos começar com um exemplo prático vindo dos Estados Unidos.
Em Kansas City, Missouri, que há três anos se tornou a maior cidade com trânsito gratuito nos EUA, a demanda supera o número de ônibus. Isso demonstra o quão popular o programa é, especialmente entre a população de baixa renda, que dela mais se beneficia. E, com as tarifas não sendo mais uma barreira, os residentes de Kansas City relatam que podem se dar ao luxo de ir a novos lugares ou visitar os antigos com mais frequência, ajudando-os a se manterem conectados uns aos outros sem impactar as finanças domésticas.
Mas não é apenas Kansas City que está vendo os benefícios do transporte público gratuito naquele país, em que grátis não é um termo muito popular. Washington, D.C., Boston e Los Angeles também estão experimentando ônibus gratuitos - e Nova York está considerando fazer o mesmo.
Agora, você pode estar se perguntando: "Mas como podemos pagar por isso?" (só em São Paulo, estimativas preliminares de custo são de R$10 bilhões, segundo a Prefeitura).
A resposta é que já estamos pagando um preço alto por manter as coisas como estão.
O subsídio ao estacionamento gratuito - o valioso espaço imobiliário ao longo do meio-fio que as cidades reservam para carros - é estimado em US$ 100 bilhões a US$ 300 bilhões, só nos Estados Unidos, segundo estudos da UCLA. Muito acima do que as cidades precisariam gastar para tornar o trânsito gratuito.
O transporte público gratuito não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma questão de eficiência econômica. Melhor transporte público aumenta os valores dos imóveis, o que resulta em mais receita tributária e outros benefícios econômicos. Só para ficar em um exemplo: a extensão planejada do metrô de Nova York ao longo da Segunda Avenida até o Harlem já aumentou os valores dos aluguéis em 27%, duas vezes mais do que os aumentos nas avenidas semelhantes sem impacto do metrô.
Portanto, a decisão de São Caetano do Sul de implementar o passe livre é não apenas corajosa, mas também uma decisão inteligente. É uma decisão que reconhece o papel vital que o transporte público desempenha em nossas cidades e a necessidade de torná-lo acessível a todos, independentemente de sua renda. É uma decisão que outras cidades ao redor do mundo estão começando a seguir, e é uma decisão que esperamos ver mais no presente e no futuro.
Em resumo, o transporte público gratuito é mais do que apenas uma política de transporte. É uma política de justiça social, uma política de eficiência econômica e uma política de sustentabilidade ambiental.
É uma política que tem o potencial de transformar nossas cidades e melhorar a vida de seus habitantes de maneiras que poucas outras políticas públicas podem.
E é uma política que todas as cidades deveriam considerar seriamente.
Pra já.
Até a próxima segunda.
Ótimo tema mas não ficou claro de onde virá o dinheiro para financiar este transporte gratuito? Temos uma carga tributária altíssima é uma ineficiência de gasto ainda maior. Não acredito que remanejar verbas resolva. Como vê este ponto mais especificamente?