Inteligência Artificial e o futuro do trabalho: como garantir que ela trabalhe a nosso favor?
Professores do MIT sugerem políticas públicas para uma IA generativa responsável.
A Inteligência Artificial (IA) generativa está a moldando rapidamente o presente e o futuro do trabalho e pode afetar diretamente a trajetória da desigualdade. A sua capacidade de criar e aprender padrões complexos tem o potencial de transformar a forma como trabalhamos e vivemos.
No entanto, como apontado no recente artigo intitulado "Podemos ter uma IA pró-trabalhadores? Escolhendo um caminho para colocar as máquinas à serviço das mentes" (em tradução livre), dos professores do renomado Massachussetts Institute of Technology - MIT, Daron Acemoglu, David Autor e Simon Johnson, o potencial impacto negativo desta tecnologia não é uma consequência inevitável da tecnologia em si, mas sim de como a sociedade a desenvolve e molda.
No documento, eles analisam esse impacto inicial e suas consequências diretas, além de avaliarem caminhos para mitigar esses efeitos. E, como não poderia deixar de ser, o caminho sugerido é das políticas públicas.
A automação e o deslocamento de mão-de-obra qualificada são preocupações válidas, argumentam os autores. No entanto, é importante lembrar que a tecnologia sempre deslocou o trabalho - da revolução industrial à era digital. O desafio é garantir que o deslocamento seja acompanhado de oportunidades de requalificação e de novos empregos.
A vigilância intrusiva no local de trabalho é outra questão crítica e que precisa ser abordada. A privacidade no local de trabalho é um direito fundamental que deve ser protegido, mesmo na era da IA. As políticas públicas têm um papel crucial a desempenhar aqui, garantindo que os direitos dos trabalhadores sejam protegidos.
A IA generativa tem o potencial de ser complementar à maioria dos seres humanos, aumentando as suas capacidades, argumentam os professores do MIT. No entanto, para que isso aconteça, são necessárias mudanças na direção da inovação tecnológica, bem como nas normas e no comportamento das empresas.
Os autores propõem cinco políticas públicas para garantir que a IA generativa seja usada de forma a beneficiar todos os trabalhadores. Em resumo, seriam:
Equalizar as taxas de imposto sobre a contratação de trabalhadores e a posse de equipamentos/algoritmos para nivelar o jogo entre pessoas e máquinas.
Atualizar as leis e regras de Saúde e Segurança Ocupacional para criar salvaguardas (ou seja, limitações) no que tange à vigilância dos trabalhadores.
Estabelecer um imposto sobre a automação para financiar a requalificação dos trabalhadores.
Incentivar a inovação em tecnologias que complementem os trabalhadores, em vez de substituí-los.
Promover a adoção de IA generativa em programas públicos de educação e saúde.
Embora a implementação dessas políticas seja complexa e desafiadora, não é uma missão que possa ser cumprida isoladamente por uma única nação.
Levando em consideração as diferenças entre as democracias e burocracias dos EUA, onde o MIT está localizado e o Policy Memo foi elaborado, e do Brasil, onde estamos, é evidente que a questão dos impactos da IA generativa no mercado de trabalho se trata de um desafio global. Portanto, a solução deve ser buscada coletivamente, seja por meio da criação de uma governança mundial de IA ou através do intercâmbio de experiências e modelos regulatórios.
Fica cada dia mais claro que a IA tem o potencial de ser uma força poderosa para o bem, mas só se for usada de forma responsável e ética.
Portanto, é preciso que todos nós prestemos atenção a esta discussão, nos conscientizemos dos impactos e busquemos soluções.
Vamos exigir dos nossos legisladores uma regulação que garanta que a IA que trabalhe para nós, não contra nós.
Vamos exigir uma IA que aumente a nossa produtividade, não que nos substitua.
Vamos exigir uma IA que nos ajude a reduzir a desigualdade, não que a agrave.
Por meio de políticas públicas contemporâneas, podemos moldar o futuro da IA para que ela seja uma força para o bem.
Até a próxima segunda.