A conta de energia da inteligência artificial
Como equilibrar a revolução tecnológica da IA com a sustentabilidade ambiental
A inteligência artificial (IA) vem impactando diversas áreas da economia e da vida humana há algum tempo, mas a chegada do ChatGPT e outros modelos de IA generativa popularizaram o uso dessa tecnologia em uma velocidade sem precedentes. Com isso, a demanda crescente por energia necessária para treinar e manter funcionando os sistemas de IA está criando um desafio significativo. Os centros de processamento de dados (data centers), que são a espinha dorsal da IA, consomem quantidades exorbitantes de energia e pressionam as redes elétricas ao redor do mundo.
Já ficou claro que a inteligência artificial tem potencial revolucionário, mas a demanda energética que ela impõe é uma conta pesada que já está sendo cobrada. Por isso, se quisermos continuar o desenvolvimento acelerado de IA e usufruir dos avanços tecnológicos sem comprometer o meio ambiente, precisamos urgentemente de soluções para tornar a IA mais sustentável do ponto de vista de consumo energético.
Os números falam por si só: a Bloomberg destaca em artigo recente que somente um novo data center localizado em Loudoun County, Virgínia (EUA), pode consumir tanta energia quanto 30 mil residências norte-americanas. Já o CEO da empresa de tecnologia Arm Holdings, Rene Haas, afirma que, até 2030, a IA pode usar mais energia do que toda a Índia. Já O Globo traz uma comparação mais próxima, em vários sentidos: até 2026, os sistemas de IA existentes consumirão energia equivalente a dois Brasis. Em dois anos, dois Brasis em consumo de energia. Esse é o tamanho da encrenca.
Os entusiastas da IA argumentam que a tecnologia tem o potencial de resolver grandes problemas ambientais, ajudando a melhorar a eficiência energética e a gestão de recursos naturais e alegam que esses centros de processamento de dados representam somente cerca de 2% do consumo de energia no mundo. Além disso, há empresas como Amazon, Google e Microsoft investindo em energias renováveis para alimentar seus data centers e em tecnologias para reduzir o consumo de energia.
Ainda que esses esforços sejam louváveis, eles não são suficientes para acompanhar a rápida expansão da demanda energética da IA. E, embora seja verdade que os atuais data centers só representem uma pequena parte do consumo atual, o banco Goldman Sachs prevê que esse número dobre em menos de cinco anos. O problema não pode ser resolvido apenas com iniciativas individuais de grandes empresas; é necessária uma abordagem global e coordenada.
Precisamos de políticas públicas e investimentos que promovam a sustentabilidade na IA. Isso inclui apoiar a pesquisa em IA Verde, desenvolver data centers eficientes, implementar computação distribuída e fomentar a adoção de energias renováveis em larga escala. Além disso, é crucial que governos, empresas e instituições de pesquisa trabalhem juntos para criar um ambiente regulatório que alie práticas sustentáveis na indústria de tecnologia a desenvolvimento e geração de energia limpa.
A revolução da IA não pode ser desacompanhada de uma revolução energética. A conta da energia já chegou, e precisamos agir agora para garantir que a tecnologia que promete transformar nossas vidas também seja responsável e sustentável. Ao investir em soluções verdes para suprir a demanda para IA, podemos assegurar um futuro onde inovação e preservação ambiental caminhem lado a lado, beneficiando a todos.
P.S. Essa pauta foi sugerida pelo amigo e leitor Nilson Oliveira, sempre atento ao que será notícia.