10 tecnologias emergentes em 2024: impacto para todos os lados.
Da inteligência artificial às superfícies inteligentes, entenda como as tecnologias emergentes transformarão a sociedade e quais os desafios regulatórios que nos esperam.
Quais são as tecnologias que prometem revolucionar o futuro próximo? E como elas impactam nas nossas vidas e nas decisões governamentais? Foi com essas e outras questões em mente que participei semana passada do lançamento virtual do documento "Top 10 Emerging Technologies of 2024", promovido pelo Fórum Econômico Mundial. Desde 2015, quando fui nomeado Young Global Leader, acompanho de perto o lançamento anual desse estudo, que invariavelmente traz temas que se encontram na interseção entre tecnologia, sustentabilidade e políticas públicas. E foi exatamente isso que vi ao analisar as principais tecnologias emergentes deste ano, que oferecem um mundo de oportunidades, mas também exigem atenção redobrada de governos, empresas e sociedade civil. Trago aqui um resumo do que li e ouvi:
1. Inteligência Artificial para descobertas científicas
A inteligência artificial (IA) continua a revolucionar a ciência. Como já discuti em artigos anteriores, a IA tem potencial para transformar setores críticos como a saúde e a pesquisa científica. Com o uso crescente de modelos como o AlphaFold, que já previu estruturas proteicas complexas, a IA está acelerando a descoberta de novos medicamentos e materiais. O impacto dessa tecnologia vai além das fronteiras do laboratório: ela exige que governos definam marcos regulatórios claros para proteger dados sensíveis e garantir que esses avanços sejam utilizados de forma ética e acessível.
2. Tecnologias de proteção de privacidade
Com o aumento da quantidade de dados gerados diariamente, as tecnologias que protegem a privacidade se tornaram fundamentais. Dados sintéticos e criptografia homomórfica são exemplos de inovações que permitem o uso seguro de informações sem comprometer a privacidade dos indivíduos. Já comentei aqui sobre a importância de regulação nesse setor, especialmente no Brasil, onde o uso de dados pessoais é uma questão delicada. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) já é um marco, mas tecnologias emergentes como essas demandarão ajustes e novas diretrizes para acompanhar a evolução.
3. Superfícies inteligentes reconfiguráveis
Imagine paredes e janelas que possam otimizar sinais de comunicação sem fio. Essa é a promessa das superfícies inteligentes reconfiguráveis, uma tecnologia que transforma qualquer superfície em uma ferramenta para aprimorar a conectividade. Em uma sociedade cada vez mais digital, essa tecnologia pode beneficiar tanto o setor privado quanto as políticas públicas. Cidades inteligentes poderão usar essas superfícies para melhorar a eficiência dos serviços públicos, como já discuti no contexto de tecnologias de IA aplicadas ao espaço urbano.
4. Plataformas de alta altitude (HAPS)
Plataformas de alta altitude, também conhecidas como Satélites Estratosféricos, têm o potencial de levar conectividade para regiões remotas. No Brasil, a inclusão digital ainda é um desafio, especialmente em áreas rurais. Com essa tecnologia, governos ao redor do mundo podem facilitar o acesso à internet, reduzindo a desigualdade digital e ampliando oportunidades educacionais e econômicas em regiões onde a infraestrutura é precária. O potencial é evidente: nosso governo, por exemplo, poderia adotar essas plataformas como parte de um plano nacional de inclusão digital, beneficiando milhões de cidadãos - e melhorando o monitoramento de nossas vastas fronteiras.
5. Sensoriamento e comunicação integrados
A integração de sensores e redes de comunicação em um único sistema representa uma enorme economia de recursos. Cidades poderão monitorar sua infraestrutura em tempo real, desde a qualidade do ar até o consumo de energia. Além disso, a implementação de redes mais inteligentes ajudará a reduzir o desperdício e aumentar a eficiência, temas que abordei em outros artigos sobre cidades inteligentes e a sustentabilidade urbana. Essa tecnologia exigirá regulamentações que incentivem o uso de dados sensoriais para o bem público, respeitando ao mesmo tempo a privacidade dos cidadãos.
6. Tecnologias imersivas para o setor de construção
Ferramentas como gêmeos digitais e realidade aumentada estão prontas para revolucionar o setor da construção. Essas inovações não só melhoram a eficiência dos projetos como também reduzem erros e desperdícios de materiais, aspectos fundamentais em um mundo que busca sustentabilidade. Já comentei anteriormente sobre o impacto das tecnologias digitais na construção sustentável, e essa tecnologia poderá ser um divisor de águas. No entanto, para sua adoção em larga escala, será necessário que governos criem incentivos para a modernização do setor, alinhados a metas de redução de emissões.
7. Elastocalóricos
Com as mudanças climáticas (e a própria operação de Inteligência Artificial) aumentando a demanda por resfriamento, os materiais elastocalóricos oferecem uma solução promissora. Esses materiais liberam e absorvem calor quando submetidos a estresse mecânico, e podem substituir sistemas tradicionais de refrigeração e aquecimento, que são altamente consumidores de energia. Aqui, neste país tropical e abençoado por Deus, a política pública pode desempenhar um papel crucial ao incentivar a pesquisa e o desenvolvimento dessas tecnologias, promovendo incentivos fiscais e regulamentações que favoreçam sua adoção em escala.
8. Micróbios capturadores de carbono
O uso de microrganismos para capturar dióxido de carbono e convertê-lo em produtos úteis, como biocombustíveis, representa um avanço significativo na luta contra as mudanças climáticas. No contexto brasileiro, um país com vastas áreas agrícolas e industriais, essa tecnologia pode ser incorporada a estratégias de captura de carbono em larga escala, ajudando o país a atingir metas ambientais ambiciosas. Já discuti em artigos anteriores como o Brasil pode liderar na bioeconomia, e os micróbios capturadores de carbono são mais um exemplo dessa liderança em potencial.
9. Alimentação alternativa para animais
Com o impacto ambiental da produção de ração animal em destaque, alternativas como proteínas de insetos e algas estão ganhando força. Essas opções reduzem a pressão sobre o uso da terra e diminuem a pegada de carbono da pecuária. Há muita discussão e pesquisa sobre como a agropecuária pode se tornar mais sustentável, e essa é uma das formas mais promissoras. A adoção de rações alternativas, entretanto, exigirá uma política de incentivos governamentais para reduzir os custos e popularizar essas práticas entre os produtores.
10. Genômica para transplantes
Finalmente, a edição genética aplicada a transplantes está revolucionando a medicina. Com a capacidade de modificar órgãos de animais para torná-los compatíveis com humanos, poderemos enfrentar a escassez de órgãos disponíveis. Essa tecnologia, além de salvar milhões de vidas, terá um impacto econômico significativo, reduzindo os custos associados à diálise e tratamentos de longo prazo. Políticas de saúde pública terão que ser ajustadas para incorporar esses avanços, e o Brasil, com seu sistema de saúde pública robusto, pode liderar essa transformação na América Latina.
A cada ano, o avanço das tecnologias emergentes redefine as fronteiras do possível, e em 2024 não está sendo diferente. No entanto, como mencionei em outras ocasiões, a adoção dessas inovações exige uma governança eficaz, uma regulamentação que proteja os cidadãos e uma coordenação global que alie desenvolvimento tecnológico com sustentabilidade. O desafio não é apenas técnico, mas profundamente político e social.
Se não estivermos prontos para moldar essas tecnologias com políticas públicas adequadas e uma visão estratégica de longo prazo, corremos o risco de perpetuar desigualdades e criar novos problemas. O Brasil, em especial, precisa se posicionar ativamente nesse cenário, aproveitando o potencial dessas inovações para liderar com responsabilidade e visão de futuro.
A revolução tecnológica está a todo vapor, mas cabe a nós garantir que ela nos leve para lado certo da história.
Até a próxima!